quinta-feira, 21 de maio de 2015

QUANTOS CONTOS VALE UM CONTO?

          A Camisa do Homem Feliz


Era uma vez um rei, cujos domínios se estendiam por terras 
tão longínquas que se costumava dizer que em seu 
reino o sol jamais se punha. Este rei tinha riquezas imensuráveis: 
os mais belos diamantes que já saíram das minas; os mais 
produtivos pomares, cujos frutos possuíam a doçura do mel; 
o gado que vivia em seus pastos era viçoso e se reproduzia extraordinariamente.

Tudo que o rei desejasse, imediatamente um súdito aparecia 
para satisfazê-lo, pois para coroar sua boa fortuna, ele 
ainda contava com o amor de seu povo, que ele governava com mansidão, 
coisa rara naqueles tempos.

Tudo estaria perfeito, não fosse o fato de o rei ter um filho, um jovem
 forte e bonito, criado com as mais finas iguarias que as terras reais 
produziam, sempre trajado com as mais ricas sedas e tafetás e ornado 
de jóias especialmente desenhadas para ele. Apesar de todo este garbo, 
o filho do rei era um jovem triste, de uma tristeza que tira o brilho dos olhos, 
faz a pele amarelar e os cantos dos lábios ficarem caídos.

Todos os médicos afamados que viviam no extenso domínio do reino 
foram chamados. E nada da tristeza do jovem príncipe ser curada. 
Tentaram de tudo: poções feitas com ervas quase desconhecidas, 
invenções de alquimistas, benzimentos e tudo o mais que o engenho humano 
pudesse conceber.
 O rei percebeu que se aquela tristeza não fosse debelada o seu filho morreria.

Certo dia, quando todos no palácio já desesperavam, uma mulher 
de idade muito avançada apareceu nos portões, pedindo, por favor, 
um caldo quente que ajudasse a aquecer o seu velho corpo. 
Ela ouviu falar da doença do príncipe. Segredou à cozinheira 
que só uma coisa poderia curar o jovem: deveriam vesti-lo com 
a camisa de um homem feliz, cuja felicidade viesse do âmago
 e pudesse ser comprovada.

Então, o rei decidiu dar uma enorme festa, que duraria o prazo 
de seis meses, para que todos os nobres e o povo, todos os seus 
súditos viessem ter ao palácio e, assim, o rei descobriria um ser 
verdadeiramente feliz, compraria sua camisa e a vestiria no filho que morria 
lentamente, salvando-o.

A empreitada animou a todos, criou-se uma estratégia 
de investigação. Desse modo, a cada pessoa que chegava à festa
 o rei ou um seu encarregado perguntava: "E então, senhor duque, 
está feliz com seu ducado, com seus
 pastos e negócios?" Um a um, todos respondiam que sim, 
estavam felizes. Então, se propunha a estas pessoas: 
"E não quer vir morar no palácio, desfrutar de todos os tesouros do rei?"
 E a resposta gelava o coração do rei:
 "Claro que sim, então eu seria verdadeiramente feliz".

Os meses se passaram e ninguém conseguiu satisfazer a condição de felicidade 
proposta pela velha mulher. O rei, angustiado com a perda iminente do filho, 
que já estava só pele e osso, saiu a passear no campo, nos arredores do palácio. 
Repentinamente, ouviu um homem cantando a plenos pulmões, uma melodia 
tão alegre que até o sol brilhava mais intensamente. Um frêmito de esperança
 encheu o coração do rei e ele seguiu na direção daquela voz.

Viu um homem que cuidava do rebanho, sorridente, vestido de um casaco
 grosseiro que o ajudava a se proteger do frio rigoroso. O Rei se aproximou e,
 apresentando-se, fez logo a pergunta: "E então, meu jovem, quer
 vir morar no meu palácio, 
desfrutar os meus tesouros?" 

Qual não foi sua surpresa quando o jovem respondeu: 

"Qual nada, Majestade, que tesouros o senhor poderia me oferecer que eu 
já não tenha?"
Imediatamente o rei puxou-lhe o casacão e já ofereceu: vou lhe dar um 
baú de moedas 
de ouro em troca de sua camisa. 
Nesse momento, o jovem gargalhou mais fortemente, 
ao mesmo tempo em que o rei constatava que 
o homem mais perfeitamente feliz, 
sequer tinha uma camisa!


Foto: http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/idoso-vive-pelado-ha-20-anos-em-ilha-isolada-no-japao,6cf84670c0ada310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

Nenhum comentário: